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Autocobrança: Reflexos da Infância na Vida Adulta





A autocobrança excessiva é um fenômeno cada vez mais comum na vida adulta. Muitos de nós, ao longo da vida, desenvolvemos uma tendência a nos exigida em demasia, seja no âmbito profissional, familiar ou pessoal. Mas, de onde surge essa necessidade constante de ser perfeito, de atender às expectativas, muitas vezes irreais, que colocamos sobre nós mesmos? Para entender essa questão, é importante olharmos para a infância e refletirmos sobre o que Donald Winnicott, pediatra e psicanalista, nos ensina sobre o desenvolvimento infantil e a construção


Winnicott acreditava que, nos primeiros anos de vida, a criança precisa de um ambiente suficientemente bom, onde suas necessidades emocionais sejam colhidas e respeitadas. Quando isso acontece, a criança desenvolve um "self verdadeiro", uma sensação de ser autêntica, de poder ser quem realmente é. No entanto, quando as expectativas externas — sejam dos pais, da sociedade ou das estatísticas — são excessivas ou mal compreendidas, a criança pode desenvolver um "falso eu", moldado para agradar aos outros e responder à exigência do


Essa adaptação excessiva ao que os outros esperam de nós pode ser o primeiro passo para a autocobrança desmedida que muitos adultos enfrentam. Uma criança, ao tentar satisfazer essas demandas externas, pode deixar de lado suas próprias necessidades, desejos e sentimentos genuínos. Esse padrão de comportamento, uma vez internalizado, pode se perpetuar na vida adulta.


Quando crescemos com essa necessidade de atender às expectativas alheias, podemos nos tornar adultos que se cobram em excesso. Essa cobrança, muitas vezes, não tem origem em critérios reais do mundo externo, mas em um ideal de perfeição que construímos ao longo do tempo. Somos incapazes de aceitar nossas falhas, nossos limites, e nos sentimos constantemente pressionados a fazer mais e ser mais. Isso gera um ciclo de frustração, ansiedade e, em muitos casos, exaustão.

Winnicott fala sobre a importância de ser “bom o suficiente”, conceito que pode nos ajudar a entender o quão prejudicial é essa cobrança interna. Ele não defende a perfeição, mas sim a limitação das falhas e a importância de um ambiente que permite à criança (e ao adulto que ela se torna) experimentar a mesma forma de forma genuína, sem a necessidade de estar sempre correspondendo ao que os outros esperam .


Se, na infância, não tivemos a oportunidade de desenvolver um "self verdadeiro", isso não significa que estamos condenados à autocobrança para sempre. A boa notícia é que, com o tempo e o trabalho terapêutico, é possível resgatar essa perda. A chave é substituir a autocobrança pela autocompaixão, aprendendo a nos tratar com a mesma gentileza e compreensão que oferecemos aos outros.


Winnicott nos lembra que não precisamos ser perfeitos. O conceito de "mãe suficientemente boa" pode ser ampliado para nossa própria vida: podemos ser adultos "suficientemente bons", permitindo-nos errar, aprender e crescer sem a pressão de sermos infalíveis.


 
 
 

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